
Umbanda
Aqui falta uma flor...
A historia da umbanda teve inicio com um jovem chamado Zélio Fernandino de Moraes e o Caboclo das Sete Encruzilhadas no dia 15 de Novembro de 1908. Zélio nasceu no dia 10 de Abril de 1892, no distrito de Neves, município de São Gonçalo, Rio de Janeiro. Era filho de Joaquim Fernandino Costa e Leonor de Moraes, seu pai era um graduado oficial da Marinha, e sua família era muito tradicional no estado do Rio de Janeiro.
No ano de 1908, Zélio com seus 17 anos tinha terminado seus estudos de Ensino Médio, chamado na época de propedêutico, e já se preparava para ingressar na vida militar seguindo seu pai na Escola Naval, porém, nesta mesma época alguns fatos estranhos começaram a acontecer com o jovem Zélio, que por vezes era visto falando de forma mansa e com uma postura idosa e com sotaque totalmente diferente de sua região, falando coisas que aparentemente não teria sentido, por outras vezes, ganhava um tipo muito ágil, desembaraçado, parecendo um felino, e aparentava conhecer com muito propriedade os mistérios da natureza. Sua família então muito preocupada com a saúde mental de Zélio, já que estava prestes a ingressar em sua carreira militar, pediu ajuda ao irmão de sua mãe, Dr. Epaminondas de Moraes, médico psiquiatra que era diretor do Hospício de Vargem Grande.
Zélio passou vários dias no Hospício na companhia de seu tio, realizando diversos testes, e no final de todas as pesquisas seu tio não encontrou nenhum de seus sintomas em nenhuma literatura medica existente, e sem poder precisar o que se passava aconselhou a família que o encaminhasse aos cuidados de um padre, pois estava desconfiado que o Zélio sofria de algum tipo de demonização.
Então a família recorreu a um outro tio de Zélio que era padre católico, este tio com a ajuda de outros padres católicos realizaram alguns rituais de exorcismo com o jovem Zélio, mas todos foram sem sucesso.
Como nenhum dos tratamentos, nem médico nem espiritual, aparentemente teriam resolvido, Zélio retornou a sua vida normal ainda sem entender os fatos que lhe acometiam, até que um dia Zélio foi acometido por uma paralisia parcial que o impossibilitava de andar, Zélio novamente foi encaminhado a medicina, mas nenhum médico pode explicar o motivo da paralisia pois estava gozando de plena saúde, porém, um certo dia, Zélio que ficava de cama em casa levantou-se e disse "amanhã estarei curado", e no dia seguinte levantou pela manhã andando como se nada tivesse ocorrido.
Um tempo depois sua mãe o levou até uma benzedeira conhecida na região que atendia as pessoas com a manifestação de uma entidade chamada Tio Antônio. Essa entidade teria dito ao Zélio que ele possuía uma grande missão na Terra, porém, sem maiores detalhes, sempre de forma vaga.
Um amigo do Sr. Joaquim, pai de Zélio, aconselhou que o levasse a Federação Kardecista de Niterói, que havia sido recém fundada no município de São Gonçalo das Neves, mesmo município onde a família de Zélio residia. O presidente da federação era o Sr. José de Souza, que também era chefe de um departamento da marinha, chamado Toque Toque.
Zélio foi conduzido até a Federação no dia 15 de Novembro de 1908 para uma sessão. Zélio foi convidado para se sentar a mesa e assim que se sentou já se levantou sem nada dizer, e contrariando as normas do ritual saiu da sala, todos ficaram sem entender, quando Zélio retorna com uma rosa branca em suas mãos, a colocou em um vasilhame com água que estava ao centro da mesa e diz: "Estava faltando uma flor."
Os trabalhos foram iniciados e no seu decorrer estava acontecendo manifestações de negros escravos e índios, e todos esses espíritos eram convidados a se retirar da sessão, já que de acordo com a filosofia espirita da época, espíritos que em vida não tiveram estudo ou posição de destaque não poderiam ter uma evolução espiritual maior que eles, logo não valia a pena serem ouvidos. No momento em que o senhor José de Souza convidava uma das entidades manifestadas a se retirar Zélio se levanta e começa um dialogo com o Sr. José de Souza, como a seguir:
Zélio: Por que é que expulsam esses humildes?
Neste momento todos já percebem que Zélio estava manifestado de uma entidade.
Sr. José de Sousa: Quem é você que ocupa o corpo deste jovem?
Zélio: Eu sou apenas um caboclo brasileiro.
Sr. José de Sousa: Você se identifica como caboclo mas vejo em você restos de vestes clericais.
Zélio: O que você vê em mim, são restos de uma existência anterior. Fui padre, meu nome era Gabriel Malagrida, acusado de bruxaria fui sacrificado na fogueira da inquisição por haver previsto o terremoto que destruiu Lisboa em 1755.
Sr. José de Sousa: E qual é seu nome?
Zélio: Se é preciso que eu tenha um nome, digam que eu sou o CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS, pois para mim não existirão caminhos fechados. Venho trazer a Umbanda uma religião que harmonizará as famílias e que há de perdurar até o final dos séculos.
Sr. José de Sousa: E não julgas que existam religiões suficientes inclusive o espiritismo?
Zélio: Deus, em sua infinita bondade, estabeleceu na morte, o grande nivelador universal, rico ou pobre poderoso ou humilde, todos tornam-se iguais na morte, mas vocês homens preconceituosos, não contentes em estabelecer diferenças entre os vivos, procuram levar estas mesmas diferenças até mesmo além da barreira da morte. Por que não podem nos visitar estes humildes trabalhadores do espaço, se apesar de não haverem sido pessoas importantes na Terra , também trazem importantes mensagens do além? Porque o não aos caboclos e pretos-velhos? Acaso não foram eles também filhos do mesmo Deus?...Amanhã, na casa onde meu aparelho mora, haverá uma mesa posta a toda e qualquer entidade que queira ou precise se manifestar, independente daquilo que haja sido em vida, todos serão ouvidos, nós aprenderemos com aqueles espíritos que souberem mais e ensinaremos aqueles que souberem menos e a nenhum viraremos as costas a nenhum diremos não, pois esta é à vontade do Pai
Sr. José de Sousa: E que nome darão a esta igreja?
Zélio: Tenda Nossa Senhora da Piedade, pois da mesma forma que Maria ampara nos braços o filho querido, também serão amparados os que se socorrerem da Umbanda.
O Caboclo das Sete Encruzilhadas, estando manifestado em Zélio convidou a todos os senhores da Federação que assistissem ao culto que se iniciaria no dia seguinte na Rua Floriano Peixoto, nº 30, residência de Zélio, às 20h00. E com isso José de Souza lhe diz:
Sr. José de Sousa: E o meu irmão vai acreditar que lá tenha alguém amanhã?
Zélio: Colocarei no cume de cada montanha que circula Neves uma trombeta tocando anunciando uma tenda espirita onde o preto e o caboclo possa trabalhar.
No dia seguinte 16 de Novembro de 1908, todos os membros da Federação estavam realmente na porta da casa de Zélio para se certificarem do que havia sido dito, acompanhando estavam amigos, parentes, vizinhos e uma multidão de curiosos que vieram ver o que iria acontecer.
Às 20h00 em ponto o Caboclo das Sete Encruzilhadas se manifestou em Zélio, e com o dizer abaixo iniciou o culto.
"Vim para fundar a Umbanda no Brasil, aqui inicia-se um novo culto em que os espíritos de pretos velhos africanos e os índios nativos de nossa terra, poderão trabalhar em benefícios dos seus irmãos encarnados, qualquer que seja a cor , raça, credo ou posição social. A pratica da caridade no sentido do amor fraterno, será a característica principal deste culto"
Durante o trabalho o Caboclo das Sete Encruzilhadas deu passes em muitas pessoas, realizou curas, falou sobre a doutrina umbandista, e em dado momento disse que precisava se retirar pois outra entidade necessitava se manifestar. Após a desincorporação do Caboclo das Sete Encruzilhadas, incorporou uma entidade se chamando de Preto Velho.
Saiu da mesa onde Zélio estava, se dirigiu para o canto da sala onde ficou agachado, muitos o questionaram do por que não queria ficar a mesa, e ele então respondeu: "Num carece preocupa não. Nego fica no toco que é lugar de nego". Sempre em seus atos e fala, mostrou a mansidão e humildade que a linha dos pretos velhos nos mostram, e se disse chamar Pai Antônio. Durante o trabalho lhe perguntaram se ele não queria algo, e ele respondeu: "Minha cachimba, nego que o pito que deixou no toco. Manda moleque busca". Todos logo perceberam que estavam presentes em algo fantástico, o primeiro elemento material que um guia pediu para trabalho.
Seu carisma no trabalho foi tão grande que na semana seguinte todos levaram cachimbo para presentear o Pai Antônio, e muitos sobraram, já que havia apenas o Pai Antônio trabalhando, ou seja, um único preto velho.
Pai Antônio também foi o primeiro guia a pedir uma guia (colar) de trabalho. Não era raro seu pai ser parado nas ruas com todos querendo saber como ele aceitava tudo o que estava acontecendo em sua residência, sua resposta era sempre a mesma, em tom jocoso ele dizia: "Melhor ter um filho médium do que louco."
AS 07 TENDAS
Em 1918 Zélio Fernandino de Moraes recebeu a incumbência do Caboclo das 7 Encruzilhadas de abrir mais 7 tendas de Umbandas no estado do Rio de Janeiro, que seria a conclusão da missão de Zélio no plano material com a Umbanda.
Essas 7 casas são de extrema importância para a estabilização da Umbanda, embora não tenham sido literalmente as 7 primeiras, pois, a Umbanda é uma religião fundada a partir do plano espiritual, logo, após sua anunciação por intermédio de Pai Zélio este mesmo evento começou a acontecer em diversos pontos do Brasil, onde guias começaram a se manifestar em nome da Umbanda já, e muitos começaram a praticar a Umbanda mesmo sem conhecer Zélio e seu trabalho.
Para a fundação dessas 7 novas casas Zélio contou com muitos de seus filhos, os quais foram preparados por ele e pelo Caboclo das 7 Encruzilhadas para assumirem essa reponsabilidade sacerdotal, entre os muitos filhos que Zélio teve se destacam entre eles:
Leal de Souza ' Durval de Souza ' João Severino Ramos ' Paulo Lavois ' João Aguiar ' José Meireles ' José Alvares Pessoa
1ª Tenda Espirita Nossa Senhora da Conceição - (Fundada em 1918)
2ª Tenda Espirita Nossa Senhora da Guia - (Fundada em 1927)
3ª Tenda Espirita de São Jorge - (Fundada em 1935)
4ª Tenda Espirita de São Jerônimo - (Fundada em 1935)
5ª Tenda Espirita de São Pedro - (Fundada em 1935)
6ª Tenda Espirita de Oxalá - (Fundada em 1939)
7ª Tenda Espirita de Santa Barbara - (Fundada em 1952)
A Umbanda vem passando por várias fases ou períodos que marcaram sua história e contribuíram para a cultura afro-brasileira que temos hoje, podemos destacar algumas situações especiais analisando sua cronologia.
10 de Abril de 1892 - Nascimento de Zélio Fernandino de Moraes
15 de Novembro de 1908 - Anúncio da Umbanda
16 de Novembro de 1908 - Primeira Gira
1918 - Zélio recebe a missão de fundar 7 tendas
1924 - 1930 - Zélio se elege vereados no Rio de Janeiro e foi presidente do Legislativo
1924 - Benjamim Figueiredo funda a Tenda Espirita Mirim
1929 - Primeira tenda registrada em São Paulo
1933 - Leal de Souza lança o primeiro livro de Umbanda, "Umbanda, Espiritismo e as 7 Linhas"
1941 - É realizado o Primeiro Congresso Nacional de Umbanda no Rio de Janeiro
1947 - Zélio entrega a dirigência da Tenda Espirita Nossa Senhora da Piedade a suas filhas, Zélia e Zilmeia e então funda a Cabana de Pai Antônio em Cachoeiras de
Macacu - Boca do Mato
Anos 50 - Pai Jaú cria a Cruzada de São Jerônimo em São Paulo, o que veio a ser uma das primeiras organizações de Umbanda
1961 - É realizado o Segundo Congresso Nacional de Umbanda também no Rio de Janeiro, onde Zélio apresentou o que é conhecido hoje como Hino da Umbanda, Zélio também fez a proposta da criação de um Superior Órgão de Umbanda para cada estado
1969 - Pai Jaú começa a festa de Yemanjá no litoral paulista
Outro ponto importante na cronologia de Umbanda que todos devemos saber e entender é um periodo crucial em nossa história que consiste em um periodo entre1970 à 1990.
No periodo de 1970 até 1980 a Umbanda teve uma grande expansão, havia virado realmente a religião da moda no Brasil, cantores famosos da MPB cantavam os Orixás em suas letras, as festas de Yemanjá no final do ano reuniam milhares se não milhões de pessoas nas orlas das praias para saudar nossa Rainda do Mar.
Hoje analisando essa expanção entedemos que esse evento ocorreu de forma desordenada, e muitas das pessoas que se diziam umbandistas apenas o faziam por pensar ser a religião da moda, e não estavam na Umbanda mesmo por amor a doutrina, as crenças e a nossos Orixás, mas sim por uma valorização do status "Umbandista".
Já nos anos de 1980 até 1990 passamos por um periodo de esvaziamento muito grande, onde fomos de milhões nas festas para algumas centenas. Esse fato se deve ao surgimento de religiões de algumas vertentes que marcaram sua história pela intolerância religiosa, e seu vasto discurso de demonização de nossa crença e religião.
Atacavam-nos até usando o Sincretismo a seu favor, pois começaram a associar a imagem do Orixá Exu com a representação do Diabo da visão Catolico-Cristã, e devido a grande parte dos umbandistas da época estarem na religião por moda mesmo e não por sentimento, acabavam não buscando conhecer sua religião a fundo, e quando eram confrontados com esses argumentos não sabiam defender e mostrar o que realmente era a Umbanda, então acabavam sendo convencidos por esses dialogos agressivos e demonizadores dos nossos Sagrados Orixás.
Hoje temos entendimento que todos que profanam e desrespeitam qualquer religião que seja existente um dia terá seus negativismos esgotados e irão pagar por suas linguas felinas, sendo no plano material ou espiritual, portanto, não cabe a nós aqui julgar ou acusar religião X ou Y pela profanação que sofremos, e sim sabermos dos fatos e entendermos nossa parte de culpa neste processo, pois conhecendo o passado entendemos o presente e nos preparamos para o futuro.
